02 maio 2006
SENTA AÍ, TALITA ! (Contar carneirinhos? Já era!)
Ultimamente , com esse desafio de escrever o SENTA AÍ, TALITA! , acabei notando que o meu sono vinha sofrendo algumas alterações. A primeira etapa do repouso do guerreiro, como até hoje acontece, transcorre normalmente : apago imediatamente, ao primeiro contato com o travesseiro. Mas, no meio da madrugada, depois de algumas horas de descanso e de satisfazer a mais corriqueira das necessidades dos idosos, voltava para a cama e começava a me preocupar com a estruturação dos capítulos desta "obra-prima". Justo nesse momento , as lembranças de inúmeros fatos povoavam a minha mente e roubavam o meu sono. Pois, foi exatamente uma dessas lembranças que me trouxe a solução para a incipiente insônia : Por que não fazer uso da auto- hipnose, já que eu a conhecia de longa data? Passei a fazê-lo e o problema foi resolvido. Querem saber os detalhes de como venho driblando a insônia? Pois não. Sugiro, no entanto, que , inicialmente , leiam sobre as origens do meu interesse pela hipnose.
Por volta de 1959, quando era ainda 1°Tenente e servia no então 1° Batalhão de Engenharia de Combate, em Santa Cruz,zona oeste do Rio de Janeiro, fui convidado pelo médico da Unidade, Ten Dr. Silvio, para , segundo suas palavras, assistir a um fenômeno interessante. Vocês deverão estar se perguntando se há necessidade de entrar em tantos detalhes para contar um caso como o que pretendo narrar. Afirmo que sim. As histórias relacionadas à hipnose costumam ser tão extraordinárias que , se não forem bem documentadas, facilmente caem no descrédito geral. Prossigamos. Uma vez aceito o convite para presenciar o fenômeno, nos dirigimos para o gabinete odontológico do Quartel, onde nos aguardavam o dentista ( Dr. Macri. Se não me engano era esse o seu nome) e um soldado , seu paciente. Enquanto o médico, Dr.Silvio, hipnotizava o soldado e descrevia os resultados esperados, o dentista ia realizando, tranqüilamente, as ações que lhe competiam. Lembro-me, perfeitamente, de algumas das afirmações do médico (ausência de salivação,ausência de qualquer sensação desagradável, desprendimento gradativo da raiz do dente que estava sendo extraído,contração de vasos e artérias, eliminando eventuais hemorragias) ,de alguns procedimentos do dentista( extração de um dente,sem necessidade de anestesia) e das reações do organismo do soldado, correspondendo exatamente ao que ia sendo descrito pelo médico. Impressionado com o que vira, revelei ao Dr. Silvio o meu interesse em receber umas aulas sobre o emprego da hipnose. " Marinho, se você conseguir mais uns 5 interessados, dispostos a pagar o que eu paguei no curso que fiz, poderemos pensar no assunto." - foram as palavras do Silvio. A partir daí , comecei a busca de interessados. A primeira pessoa que abordei foi um sargento do meu pelotão. Rebelo, era o seu nome. Resposta do Rebelo ao meu convite: "Tenente, eu já sei hipnotizar. O Senhor não precisa pagar nenhum curso. Vou lhe indicar o livro que utilizei para o meu aprendizado". Em seguida, chamou um dos nossos soldados e passou a demonstrar que de fato conhecia a técnica da hipnose e obtinha resultados impressionantes. Autor do livro indicado pelo Rebelo: Dr. Karl Weissmann, então psiquiatra da Penitenciária de Neves, Minas Gerais. Nome da obra: O HIPNOTISMO -psicologia, técnica e aplicação ( Editora Martins, 196? )
A leitura da obra do Dr Karl Weissmann foi suficiente para dar-me condições de provocar fenômenos verdadeiramente fantásticos. Mas, é bom que se diga, não basta saber provocar fenômenos, há que se observar também uma série de recomendações encontradas em outras obras. É fundamental que se leia sobre os aspectos éticos, legais e religiosos da hipnose.
Ainda voltaremos ao assunto várias vezes, pois não faltarão histórias para contar.
Agora, ao problema da nossa insônia! Uma vez percebido que era a concentração da atenção na procura de caminhos para a estruturação deste livro o que estava perturbando o nosso sono, o aconselhável seria utilizar alguma técnica que permitisse desviar essa atenção para outro objeto, o que aliviaria a tensão e facilitaria o relaxamento. Foi aí que comecei a me concentrar no ato da minha própria respiração, imaginando o percurso percorrido pelo ar, o relaxamento provocado pela oxigenação do sangue , e, conseqüentemente , a me esquecer das preocupações anteriores.
Bem,se vocês acham complicado imaginar o funcionamento do próprio aparelho respiratório, apelem para aquele método ancestral da contagem dos carneirinhos. O resultado é o mesmo:
A atenção que estava voltada para os problemas passa a ficar voltada para a contagem dos carneirinhos.
Para terminar, um caso real:
Não estou bem lembrado se o fato aconteceu com a Talita, com a Natália ou com o Guilherme, quando eram bem menores. Um desses heróis , havia ido dormir na nossa casa. À noite, estava um pouco excitado e custando a pegar no sono. Explicou para o avô que isso o estava preocupando. Propus então que ouvisse a história que eu iria contar.É claro, que depois de descrever o cenário de uma bela fazenda, com riacho, lago, animais e tudo que tinha direito, surgiria uma cena em que carneirinhos iriam saltar uma cerca. Aí começaria a contagem (ilimitada) dos bichinhos. A coisa estava indo às mil maravilhas. O neto já estava quase fechando os olhinhos. De repente interrompe "a filmagem mental" e me diz: "-Vô, não consigo contar os carneirinhos, eles estão todos embolados." Foi só determinar que os bichinhos entrassem em fila indiana para pular o único lugar da cerca que permitia a passagem para o outro lado. Problema resolvido, ronco iniciado!
Bem, nosso objetivo não era, absolutamente, dar uma aula de hipnose. Desejei apenas passar para os amigos leitores a idéia de que a hipnose é um tema muito mais sério e muito mais importante do que se possa imaginar.
Anotações:
Meu caro Eurípedes, o livro citado nesta história enquadra-se no rol dos "emprestados, adeus!"
Este é o arquivo "senta 003"
09 fevereiro 2003
FJGM
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