Aviso aos navegantes desta galera.


Ótimas Notícias:
1.Depois de longo período inativo, nosso computador já está recuperado!!!
2.Apesar desse longo período de inatividade, o blog www.esperantoforadatoca.blogspot.com foi incluído no rol dos concorrentes que participarão da 2ª fase do concurso TopBlog2010,na categoria COMUNICAÇÃO( pessoal).
Detalhe: na lista, em ordem alfabética, dos selecionados,procurar dentre os que começam com as letras "www".



Estou em plena fase de recuperação. Só estou apanhando no uso do lap top. Daí, provisoriamente, não poder responder as mensagens dos queridos amigos.

30 maio 2006

SENTA AÍ,TALITA!(Matando saudades)

Há tempos não vou a São Paulo visitar minha irmã Myriam e a respectiva tropa. Meses atrás ela não resistiu à curiosidade de ver, pessoalmente, como o irmão caçula vem enfrentando “as batidas da sorte”, caracterizadas por duas arritmias e pequenas complicações de somenos( Guilherme, essa é moleza. Até o Dudinha conhece) importância. Foi assim... que resolveu me surpreender com uma inesperada visita,acompanhada, naturalmente, de ilustre comitiva. É bom que tenhamos esses contatos com certa freqüência, entre outras coisas, para não nos assustarmos com as inexoráveis ( Dudinha, pode ir pegar o dicionário que nós aguardamos) mudanças de aparência, decorrentes do avançar da idade e do recuar da saúde. Novamente, no dia 20 deste mês, eis que ela resolve dar uma esticada até nossa casa (desta feita,houve aviso-prévio) acompanhada como sempre de renovada comitiva, depois de haver festejado o aniversário da filha Rita, única ,dentre os filhos, que optou por voltar a morar no Rio, sua cidade natal. Pelo que soube, a “operação surpresa, estrategicamente planejada para se tornar inesquecível, foi um sucesso. Ao invés dos visitantes se apresentarem em um só momento, resolveram fazê-lo de forma impactante: primeiro, se não estou enganado, chega a irmã Sandra ( a mesma do nosso capítulo anterior); logo em seguida , a cunhada Lílian. “ E o papai, não veio?”, pergunta a anfitriã. Ouve-se uma desculpa esfarrapada, e segundos após, sai do esconderijo o guerrilheiro Bueno.Imagino a emoção da filha Rita! “ E a mamãe, não pôde vir?”. Bem, responde a guerrilheira Sandra, “ toma o meu celular e ligue para ela, para dizer que fizemos boa viagem”. Não sei se estou reproduzindo fielmente o que aconteceu, mas... continuemos.Também não sei exatamente , como a minha irmã foi chegando de mansinho e se postou atrás da Rita, enquanto ela , ingenuamente, tentava completar a chamada para São Paulo. Só sei que devem ter rolado muitas emoções.
Por volta da 4 horas da tarde do dia 20, Maria Thereza e eu começamos a receber os visitantes: Bueno,Myriam,Sandra, Lílian,Rita, Luiz Mario, Dinah, Gilberto, Ligia,Talita e Alexandre. Seleção de titulares! Só não chamei o resto da galera porque o apartamento é relativamente pequeno e não queria incomodar os vizinhos pedindo cadeiras por empréstimo. Vejam a foto abaixo. Desculpe-me, Alexandre, mais alguém tinha que bancar o fotógrafo.


Como a “tchurma” ainda não havia tomado conhecimento do capítulo “ Crocodilar, nem sempre resolve”, fizemos um convite para que a Rita- locutora oficial das tradicionais “ cartas de Papai Noel” recebidas pela galera dos Buenos – aceitasse fazer a leitura do nosso texto. Foi uma delícia, recordar situações vividas há tantos anos. Reunião digna de ser repetida!
No decorrer das nossas recordações, Myriam acrescentou uma curiosíssima informação: Aproximadamente, há quatro décadas, numa das anuais idas a São Lourenço-MG, nossa mãe conheceu uma senhora de nome Adalgisa. Conversa vai, conversa vem... em dado momento a tal senhora , resolve “crocodilar” empregando a expressão “ petit-tour”. Surpresa, minha mãe confessa que julgava ser esta uma expressão de uso particular da nossa família, transmitida pela nossa avó Clara, que dos sete aos 21 anos de idade morou na França, tendo como governanta uma senhora de origem alemã. Resumo da ópera: D.Adalgisa era parenta da governanta da minha avó. Este assunto relacionado a acaso, sintonia, coincidências, certamente voltará a ocupar páginas do “ Senta aí Talita!”

FJGM

20 maio 2006

SENTA AÍ,TALITA!(Nem sempre "crocodilar" faz efeito



Recentemente recebi visitas de Marina e de Mariana. Colocamos o papo em dia. Foi tão gostoso saber do sucesso que ambas estão fazendo! Marina, cursando Faculdade de Comunicação, já está trabalhando como estagiária remunerada, lá mesmo onde reside: Salvador-BA. A irmã, às vésperas de embarcar para o Canadá, onde deverá permanecer pelo menos um ano, a serviço da mesma empresa brasileira que a contratou para trabalhar nos Estados Unidos, por período semelhante, progredindo de vento em popa... Matamos as saudades, de forma recíproca. As notícias que o vô-coruja procurava transmitir eram sempre ornadas com justos elogios aos netos daqui do Rio. É provável que, empolgado pelos acontecimentos mais recentes, o fizesse com mais freqüência à determinada neta, ressaltando a todo o momento suas qualidades. Isso foi o bastante para que a avó, de antenas ligadas, lançasse um olhar fulminante, portador de mensagem telepática:
“-Cuidado para não despertar ciúmes!”. Na mesma hora me veio à lembrança o que minha mãe, D.Noemï, minha adorável colega, costumava dizer. Ao invés de mensagens telepáticas ou gestuais, ela fazia uso de expressões francesas, as quais funcionavam como códigos secretos. Era comum ouvirmos :“Cuidado com o
jalousie!”(alertando para o despertar de ciúmes); “ Olha o parti-pris!”(não seja preconceituoso, não tome ,precipitadamente, um partido); “-Vocês querem fazer petit-tour?”(quando, em visitas de cerimônia, percebia que algum de nós poderia querer dar uma voltinha no banheiro, para fazer xixi); “–Alguém quer fazer grand-tour?”(preparando-nos para uma eventual necessidade de maior porte, relacionada a problemas intestinais, ou seja, desprezando eufemismos: alguém quer fazer cocô antes de sair?). Mamãe sabia que era quase impossível obedecer, simultaneamente, as normas gramaticais de duas línguas, ao construir frases híbridas. Estrangeirismo é considerado um vício de linguagem, mas... a linguagem coloquial muitas vezes nos livra de situações embaraçosas. Em esperanto, chamamos de krokodilado a introdução de expressões de outras línguas no meio de frases construídas no idioma neutro internacional. Krokodili é um verbo no infinitivo, derivado do substantivo krokodilo. Geralmente, o krokodilado ocorre entre novatos que ainda não dominam o vocabulário e não encontram as palavras adequadas para expressarem determinado termo ou pensamento. Nos cursos de conversação, os professores de esperanto costumam acentuar a inconveniência da “crocodilagem”: Ne krokodilu, kara lernanto!(Não “crocodile”, caro aluno!). A crocodilagem da D. Noemï era de outra natureza.
Preciso pedir perdão por ter, mais uma vez, introduzido o esperanto na nossa conversa? Creio que o meu fanatismo decorre, do fato de a maravilhosa criação do Doutor Zamenhof não ser ainda levada a sério pela maioria dos habitantes desse planetinha e, em conseqüência, pela necessidade de vê-lo melhor difundido. Lembrando do genial título de uma das obras de Nelson Rodrigues, “ Perdoa-me por me traíres”, ocorreu-me a idéia de escrever algo, ironicamente intitulado “Perdão pelo meu fanatismo!”.
Prometo que terminarei o texto de hoje sem voltar a tocar no nome esperanto.
No início dos anos 70, quando morávamos em Resende-RJ, tivemos o prazer de uma inesperada visita. Protagonista da história: Sandrinha, a filha mais nova da minha irmã Myriam. Na época, estava fazendo um terrível frio. Sandrinha, gripada, febril, portadora de brutal infecção de garganta. A solução encontrada foi a de chamar um médico e, em seguida, um farmacêutico para aplicar, via intramuscular, uma
piqüre com o antibiótico recomendado. Mamãe, apesar de viúva de médico-cirurgião, criou os filhos, na medida do possível, à base de produtos homeopáticos. Bryonia, hepar-sulph, acconitum, antipampirus, cyrtopodium eram para nós vocábulos bem familiares. A precoce Sandrinha, doce como um glóbulo de antipampirus, observava o movimento, sem dizer uma palavra, o que seria até compreensível, dado ao seu estado febril. Mas, o silêncio durou até notar a entrada de um homem de jaleco branco, segurando em uma das mãos o tradicional estojo metálico mais conhecido como porta-seringa. De repente, da boquinha do anjo febril sai um imperativo berro de cortar o coração dos presentes: - Piqüre, não! Eu quero é antipampirus!
Como viram, nem sempre crocodilar faz efeito;crianças espertas desvendam quaisquer códigos secretos.

FJGM

16 maio 2006

SENTA AÍ,TALITA!( No esperanto, eu garanto!)

FJGM

Artur Xexéu foi de uma franqueza absoluta ao escrever o artigo “Aprendendo Alemão”, publicado na Revista O Globo deste último domingo,14 de maio. De uma forma descontraída e bem-humorada ele narra as experiências por que passou durante um curso ministrado por Frau Marracine, cuja missão, nada fácil, se resumia em “fazer 20 jornalistas que se preparam para ir à Copa do Mundo conhecer um pouco do idioma do país-anfitrião”. Segundo Xexéu, “ na primeira aula, ela nos ensinou a dizer Copa do Mundo de Futebol –“Fussball Weltmeisterschaft”- o que fez com que a turma fosse reduzida à metade na aula seguinte. Julguei que o articulista estivesse colocando pitadas de humor para tornar a catarse menos dolorosa. Não tive mais dúvidas, ao ler outro trecho onde é dito que “ na última aula, como na novela do SBT, éramos seis.Alguns desistiram ao descobrir que um pedido de desculpas era impronunciável: “ Entschuldigunde”. Outros, ao perceber que alguns verbos eram divididos ao meio, ficando uma parte no começo da frase e o resto no fim. Mais alguns quando viram expressões pequenas, como “volto já”, virarem frases enormes como “ ich komme gleich wieder”. Concluindo , o jornalista afirma que foi até o fim.Diplomou-se. Mas, acabou dizendo algo seríssimo : “Não dá para dizer que se aprende uma língua em que nunca se ouve a expressão “ a regra é essa”, mas “ a regra quase sempre é essa”.
Se não me falha a memória,há muitos anos, Xexéu publicou um comentário desfavorável ao esperanto, citando-o , de forma sarcástica, como um idioma internacional que ninguém fala. Admito que não tenha sido ele o autor do comentário, pois não quero ser processado por calúnia, uma vez que não guardei as provas do crime. O fato é que, na época, respondi para quem apresentou a crítica infundada, mas não obtive retorno. Procurei demonstrar que o jornalista estava muitíssimo mal informado a respeito do esperanto. Hoje, com o desenvolvimento da internet e graças a poderosos instrumentos de busca, como o Google , não dá mais para continuar imaginando que o esperanto é uma língua internacional que ninguém fala.
Bem, gostaria de dizer ao Xexéu que nunca estudei alemão, no entanto,ao estudar o esperanto acabei tomando conhecimento da existência de vários vocábulos oriundos daquela língua.
Ex: O radical da palavra “danki”, que por sinal é o verbo “ agradecer”, originou-se do alemão. Vale informar que todo verbo no modo infinitivo termina em “i”. Skribi(escrever); legi(ler); rigardi(olhar,observar); meti (pôr, colocar);... O final em “o” indica um substantivo- sem exceções!!!(danko= agradecimento). O final “e” indica um advérbio (danke= agradecidamente); o final “a”, um adjetivo ( danka gesto = um gesto de agradecimento);
Fraŭlo ( é um substantivo de origem germânica e significa “homem solteiro”); fraŭlino(também é um substantivo, mas o sufixo “in”( sem exceções!) indica tratar-se de feminino.Logo, fraŭlino= senhorita, mulher solteira. Numa falsa conclusão, julguei que Frau Marracine fosse um professor solteiro, pois ouvi dizer que “ frauline”, em alemão, é senhorita. Agora, estou supondo que Frau é um nome próprio. A colocação de um “j” no final dos substantivos e adjetivos é a indicação de plural ( sem exceções!). Dankoj , fraŭloj, fraŭlinoj, hundoj(cães),knaboj(meninos, rapazes).Acho melhor ficarmos por aqui. Naturalmente, se algum leitor estiver interessado em maiores informações sobre o esperanto, sugerimos examinar as ligações(links) que colocamos no lado direito deste “blogo” .
Não gosto de afirmar que o esperanto é uma língua fácil, porque a rigor nenhuma língua pode ser considerada fácil. No entanto, afirmo que, em relação às demais línguas ,ele é a mais fácil de todas. Nessa língua, dizemos com segurança :a regra é essa!
No esperanto ,eu garanto!


Agora, vamos para a hora-do-recreio. Vejam o que andou circulando pela internet:

Alemão é facil

A língua alemã é relativamente fácil. Todos aqueles que conhecem as línguas derivadas do latim e estão habituados a conjugar alguns verbos podem aprendê-la rapidamente. Isso dizem os professores de alemão logo na primeira lição.
Para ilustrar como é simples, vamos estudar um exemplo em alemão:
Primeiro, pegamos um livro em alemão, neste caso, um magnífico volume, com capa dura, publicado em Dortmund, e que trata dos usos e costumes dos índios australianos hotentotes (em alemão, "Hottentotten"). Conta o livro que os cangurus (Beutelratten) são capturados e colocados em jaulas (Kotter), cobertas com uma tela (Lattengitter) para protegê-los das intempéries. Estas jaulas, em alemão, chamam-se jaulas cobertas com tela (Lattengitterkotter) e, quando possuem em seu interior um canguru, chamamos o conjunto "jaula coberta de tela com canguru" de Beutelrattenlattengitterkotter.
Um dia, os hotentotes prenderam um assassino (Attentäter), acusado de haver matado a mãe (Mutter) hotentote (Hottentottenmutter) de um garoto surdo e mudo (Stottertrottel). Esta mulher, em alemão, chama-se Hottentottenstottertrottelmutter e o seu assassino chamamos, facilmente, de Hottentottenstottertrottelmutterattentäter.
No livro, os índios o capturaram e, sem ter onde colocá-lo, puseram-no numa jaula de canguru (Beutelrattenlattengitterkotter). Mas, incidentalmente, o preso escapou. Após, iniciarem uma busca, rapidamente vem um guerreiro hotentote gritando: Capturamos um assassino (Attentäter). Qual?? pergunta o chefe indígena. O Beutelrattenlattengitterkotterattentäter, comenta o guerreiro. Como? O assassino que estava na jaula de cangurus coberta de tela? - Diz o chefe dos hotentotes. Sim - responde a duras penas o indígena - O Hottentottenstottertrottelmutteratentäter (o assassino da mãe do garoto hotentote surdo e mudo). Ah, demônios - diz o chefe - você poderia ter dito desde o início que havia capturado o Beutelrattenlattengitterkotterhottentotterstottertrottelmutterattentäter.
Assim, através deste exemplo, podemos ver que o alemão é facílimo e simplifica muito as coisas. Basta um pouco de interesse!!!!!!

13 maio 2006

SENTA AÍ, TALITA!(Vô no Orkut)

É isso mesmo que você leu: "vovô no Orkut". Estou esclarecendo, porque ainda não me sinto bem familiarizado com os códigos lingüísticos dos usuários dessa incrível ferramenta e imagino ser possível que alguns deles suponham que desejei escrever "Vou no Orkut".
Bem, a novidade é que recebi de uma tal Talita convite para fazer parte daquela
"entidade". E mais: informando-me haver criado, em minha homenagem,uma
comunidade intitulada "Galera do Marulo".Resultado:estou começando a compreender porque motivo os jovens ficam tantas horas grudados em computadores.O negócio é extremamente atraente.Quanto à homenagem e as "msgs hiper-carinhosas, cheias de bjs e abrçs" que "tô" recebendo,só posso dizer que me proporcionam enorme prazer.
Quando me cobraram a colocação de uma foto, ao lado do meu perfil, juro que
titubeei,pelo receio de estar contrariando uma das normas do Orkut (Solicitamos que você não publique fotos contendo celebridades ou nudez).Mas, como "ainda" não sou celebridade e a nudez da minha cabeça é apenas digna de compaixão,"mandei brasa".
A propósito das gírias e expressões arcaicas que venho empregando,devo acrescentar que fiz uma visita virtual à comunidade
Gírias Idosas (214811 membros -"Olá Bacana! Já ouviste uma gíria idosa hoje?Ora bolas, vem logo pra cá! Veja com seus próprios olhos que você não é o único que escuta expressões do tempo do onça!Leia até morrer de rir... Compartilhe conosco outras "estórias" e, até - quem sabe - encontre seu broto, bem aqui!").Como descobri essa comunidade? Ao bisbilhotar a página do querido amigo Eduardo, melhor dizendo, do neto Dudinha.
Para terminar,repasso um oportuno diálogo, contido em texto de autoria desconhecida:

VOVÔ
Uma tarde o neto conversava com seu avô sobre os acontecimentos e, de repente, perguntou: - Quantos anos você tem, vovô? E o avô respondeu: - Bem, deixa-me pensar um pouco... Nasci antes da televisão, das vacinas contra a pólio, comidas congeladas, fotocopiadora, lentes de contato e pílula anticoncepcional. Não existíam radares, cartões de crédito, raio laser nem patins on line. Não se havía inventado ar condicionado, lavadora, secadoras (as roupas simplesmente secavam ao vento). O homem nem havia chegado à lua, "gay" era uma palavra inglesa que significava uma pessoa contente, alegre e divertida, não homossexual. Das lésbicas, nunca havíamos ouvido falar e rapazes não usavam pircings. Nasci antes do computador, duplas carreiras universitárias e terapias de grupo. Até completar 25 anos, chamava cada homem de "senhor" e cada mulher de "senhora" ou "senhorita". No meu tempo, virgindade não produzia câncer. Ensinaram-nos a diferenciar o bem do mal, a ser responsáveis pelos nossos atos. Acreditávamos que "comida rápida" era o que a gente comia quando estava com pressa. Ter um bom relacionamento, era dar-se bem com os primos e amigos. Tempo compartilhado, significava que a família compartilhava férias juntos. Não se conhecia telefones sem fio e muito menos celulares. Nunca havíamos ouvido falar de música estereofônica, rádios FM, Fitas cassetes, CDs, DVDs, máquinas de escrever elétricas, calculadoras (nem as mecânicas quanto mais as portáteis). "Notebook" era um livreto de anotações. Aos relógios se dava corda a cada dia. Não existía nada digital, nem relógios nem indicadores com números luminosos dos marcadores de jogos, nem as máquinas. Falando em máquinas, não existiam cafeteiras automáticas, micro-ondas nem rádio-relógios-despertadores. Para não falar dos videocassetes, ou das filmadoras de vídeo. As fotos não eram instantâneas e nem coloridas. Havia somente em branco e preto e a revelação demorava mais de três dias. As de cores não existiam e quando apareceram, sua revelação era muito cara e demorada. Se em algo lêssemos "Made in Japan", não se considerava de má qualidade e não existía "Made in Korea", nem "Made in Taiwan", nem "Made in China". Não se havia ouvido falar de "Pizza Hut", "McDonald's", nem de café instantâneo. Havia casas onde se comprava coisas por cinco e 10 centavos. Os sorvetes, as passagens de ônibus e os refrigerantes, tudo custava 10 centavos. No meu tempo, "erva" era algo que se cortava e não se fumava. "Hardware" era uma ferramenta e "software" não existía. Fomos á última geração que acreditou que uma senhora precisava de um marido para ter um filho. Agora me diga quantos anos acha que tenho? - Hiii... vovô.. mais de 200! Falou o neto. - Não, querido, somente 58!





08 maio 2006

SENTA AÍ, TALITA ! (Impulsividade em três tempos)_

IMPULSIVIDADE EM TRÊS TEMPOS
Eurípides A. Silva
(Diário da Região - Coluna OPINIÃO, p.3, 17/01/2003)


Certas pessoas, na azáfama e tribulação de suas vidas, costumam reagir de forma impetuosa, como que movidas por um impulso incontrolável, ante a ocorrência de incidentes até mesmo releváveis, candidatando-se a contrariedades de conseqüências imprevisíveis. Das chamadas "deficiências da alma", a impulsividade é das que mais prejudicam as pessoas, sobretudo as de boa índole, pelo fato de decorrer da exacerbação de princípios justificáveis, como os de justiça e dignidade pessoais, associada a um arrebatamento irresistível que enuvia o raciocínio. Criaturas moderadas, mas cuja contraditória natureza as tornam vítimas fáceis do pensamento impetuoso, são as que mais sofrem. De fato, livres da excitação momentânea que caracteriza a impulsividade, deixam-se abater por arrependimento, dando azo a uma perniciosa sensação de remorso - inspiração segura para os infortúnios dela decorrentes. Pessoas vítimas da impulsividade acabam se expondo a atritos e se tornando alvo de ressentimentos, muitas vezes não declarados. Traiçoeiramente dissimulada por sentimentos de autodefesa, a impulsividade destrói relações em todos os níveis. Não poupa nenhuma espécie de relação, seja entre chefe e subordinado, entre amigos, pais e filhos ou entre cônjuges.
Na escola, no trânsito ou na rua, ninguém está livre desse mal. Infelizmente, só com um desejo sincero de contenção e muito empenho pessoal é que se pode anular suas investidas: serenidade é conquista que demanda treino e esforço conscientes. Neste sentido, segundo os cânones da prudência e bom senso, deve-se estar atento para duas máximas: nunca demonstrar que fomos atingidos pelo petardo da maldade alheia e, em última instância, lembrar que o agressor é quem deve estar inquieto.
A título de ilustração e no intuito de amenizar a sisudez deste artigo, deixamos para o leitor três historietas de oportuna identificação com o tema.
O ladrão de bolachas - Uma jovem aguardava pelo vôo na sala de embarque de um grande aeroporto. Para matar o tempo, comprou um pacote de bolachas, uma revista e, recostando-se numa poltrona, pôs-se a ler. Pouco depois, com fome, abriu o pacote e retirou uma bolacha. Ao recolocar o pacote na mesinha ao lado, o homem sentado na poltrona contígua, sem a menor cerimônia, também retirou uma bolacha! Perplexa, viu o sujeito imitá-la duas, três vezes: ela pegava uma bolacha, ele pegava outra! "Fosse eu um homem - pensou - daria um murro na cara dele." De tanta indignação, porém, decidiu prosseguir naquele jogo, até que restou uma última bolacha.
Surpresa, viu o homem dividir a bolacha ao meio deixando, porém, uma das metades na embalagem vazia. Para ela, aquilo foi o máximo do descaramento! Furiosa, levantou-se com a intenção de insultá-lo, mas - felizmente - a comissária já a convidava para embarcar. Na poltrona do avião, bem mais calma, abriu a bolsa para guardar a revista quando deparou com um pacote de bolachas! Num segundo, percebeu seu equívoco: o outro pacote não era o seu! Profundamente envergonhada, quis levantar-se e retornar à sala de espera para se desculpar com o gentil senhor. Era tarde demais.
Porco realmente - Numa de suas belas crônicas de divulgação do esperanto, o amigo e escritor Fernando Marinho (RJ) narra o seguinte episódio. Um motorista dirigia por uma estrada sinuosa quando na contramão surgiu outro carro em alta velocidade. Enquanto fazia malabarismos para evitar o choque iminente, ainda conseguiu advertir: "Cuidado, porco!" O outro motorista, precipitando a cabeça para fora, respondeu na lata: "Porco é você, idiota!" Não é que na curva adiante, numa situação de perigo, uma manada de porcos atravessava a estrada, em tempo de ocasionar um desastre?
O cão assassino - Um vizinho comprou um coelho para os filhos. O outro comprou um cão. Muito chegados, o primeiro não escondeu o receio de que o cão viesse a matar o coelho. "Que nada - disse o segundo - vão acabar apanhando amor um pelo outro!" De fato, os animais cresceram juntos, um no quintal do outro, como dois amigos. Um belo sábado, os donos do coelho viajaram. No domingo à tarde, a outra família assistia tranqüila ao seu programa preferido de TV quando, de repente, seu pastor alemão irrompeu sala adentro trazendo na boca o coelho do vizinho! Morto e sujo de terra!
Pai e filhos, num ímpeto, avançaram sobre o cão e por pouco não o mataram de pancada. "Animal sem coração!", "o que vamos dizer para os vizinhos?" e tome vassourada! Após escorraçar o animal, veio a questão: e agora, o que fazer? Após muita discussão, optaram por devolvê-lo à sua casinha, como se nada soubessem - afinal, o coelho podia ser cardíaco! Antes deram-lhe um banho; até secador e perfume passaram. Não demorou muito e gritos e choros histéricos denunciaram a chegada das vítimas! Minutos após, o dono do coelho bate à porta, branco como quem acabara de ver um fantasma. Exibindo o coelho morto, pergunta para o dono do cão: "O que significa isso?" O vizinho e os filhos simulam surpresa e compaixão: "Meu Deus! Mas há pouco ainda o vimos no quintal!" Foi então que, humilhados, souberam que o coelho tinha morrido no sábado, e que as crianças, desoladas, o enterraram no quintal.
EURÍPIDES A. SILVA
Doutor em matemática pela USP, ex-diretor do Ibilce/Unesp e docente da Unirp e Fafica (Catanduva).


07 maio 2006

SENTA AÍ, TALITA! (Crer para ver)


CRER PARA VER


Fernando J G Marinho

Não pretendo tratar aqui de milagres, nem do poder da fé. Pretendo apenas reproduzir parte de um artigo escrito por um companheiro de ideais ,que viveu uma experiência extremamente interessante. Não houvesse ele acreditado no que certamente lhe contaram a respeito do esperanto e do movimento esperantista ,jamais teria se interessado pelo estudo dessa língua e, consequentemente, visto com os próprios olhos e sentido de perto verdadeiras manifestações de fraternidade universal. Foi preciso crer, para ver.

O artigo em questão , de autoria de José Carlos Cintra, de São Carlos-SP, foi publicado originalmente pelo periódico O Imortal, republicado pelo informativo Kvar Anguloj, de Campos-RJ e transcrito integralmente no Boletim Informativo Esperanto Atualidades n°14, Jul-Ago/99, da Associação Esperantista do Rio de Janeiro e parcialmente no Diário de Petrópolis, de 20 de novembro de 1999.


OBRIGADO, ESPERANTO!
(José Carlos Cintra)

Em início de 1998,eu planejava realizar um estágio de estudos no exterior, durante um ano, com apoio da Universidade de São Paulo, onde trabalho, e do Ministério da Educação.

Após alguns contatos, ficou definido que eu deveria ir para Nantes, 6a maior cidade francesa, onde há um importante laboratório na minha especialidade profissional. Entre as poucas informações que dispunha sabia que Nantes se situa no vale do Rio Loire, região mundialmente conhecida pelos seus exuberantes castelos, e que é a cidade natal do famoso escritor Jules Verne.

Mas estes dados eram insuficientes para quem iria lá residir com a família, composta pela esposa e duas crianças pequenas. Era preciso saber mais, obter alguns detalhes da vida em Nantes, o clima, a possibilidade de se alugar um apartamento, a provável mesada necessária etc.

Foi aí que passei a me valer do Esperanto- o idioma auxiliar internacional. Inicialmente, consultei o Anuário da UEA- Universala Esperanto-Asocio, onde encontrei o endereço de dois delegados da UEA em Nantes, isto é, dois esperantistas com excelente domínio do idioma e credenciados pela UEA a prestar informações principalmente em suas especialidades profissionais, culturais , de lazer ou "hobby", sempre em esperanto, obviamente.

Com os conhecimentos básicos que tinha do esperanto, não vacilei em escrever-lhes, solicitando as informações que tanto necessitava. Respondeu-me o Sr. Pierre Babin, presidente do Centro Cultural Esperanto de Nantes. Através desta e de uma segunda carta, gentilmente atendeu a todas as minhas indagações. Já próximo da data da viagem, escrevi uma última carta informando a data de chegada e que a família iria um mês depois.

Eis que uma agradável surpresa me esperava: na véspera da viagem, recebi, através da VARIG, o número do telefone do Sr. Henri Lafarque, do Centro Cultual Esperanto de Nantes, com o recado para entrar em contato com ele. Num misto de emoção e alegria, fiz então o primeiro telefonema internacional e em esperanto. Ele queria apenas a confirmação da minha chegada e o horário, pois iria me esperar no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Que notícia tranquilizadora! Para quem viajaria ao exterior pela primeira vez, e sem dominar a língua francesa, aquilo parecia um presente que "caía do céu".

Ao desembarcar em Paris, realmente lá estava o simpático Henri, com um cartaz escrito "esperanto", valendo como um código de identificação. Já tinha um grande amigo na França, que viajara 400 km. Apenas para me recepcionar. Obrigado, Esperanto!

Desnecessário dizer quão útil foi a companhia de Henri, para chegar ao centro da cidade, tomar o metrô e localizar um hotel de preço e conforto razoáveis, tudo isto com o incômodo da enorme bagagem que carregava.

Ainda no mesmo dia, Henri se fez de guia, mostrando-me alguns dos maravilhosos pontos turísticos de Paris. No dia seguinte, a viagem de trem para Nantes. Na chegada, a segunda grande surpresa: após um telefonema de Henri, apareceu outro esperantista, Robert, para nos apanhar em seu carro, e, o mais importante, oferecendo-me hospedagem por alguns dias. Que felicidade! Em vez da solidão de um hotel, o abrigo e o aconchego de uma família. Obrigado , Esperanto!

A gentileza e o carinho do casal Robert-Jeanine e seu filho Samuel, me encantaram profundamente. À noite, lá chegou Monique, outra esperantista, para me dar as boas vindas e também se colocar à minha disposição, até para visitar a região, o que realmente veio a se concretizar no segundo fim-de-semana seguinte.

No outro dia, fomos todos ao Centro Cultural Esperanto assistir a uma palestra de duas esperantistas da Alemanha, com exibição de slides sobre a cidade e o país delas, o que é prática comum no meio esperantista. Após a palestra, aquela confraternização, regada a vinho, queijo e tudo mais. Ali tive a oportunidade de já conhecer a maioria do grupo, cerca de quarenta esperantistas, sentindo-me cercado de muitas atenções, vários deles me oferecendo seus endereços e me convidando para uma refeição em seus lares, o que realmente veio a se confirmar por várias vezes, mesmo após a chegada de minha família. Foi uma noite feliz. Ao colocar a cabeça no travesseiro para dormir, constatava que não era um simples desconhecido em solo francês, mas que já tinha quarenta amigos. Obrigado, Esperanto!

Acabei ficando hospedado por 19 dias na casa de Robert e Jeanine. Tive o tempo necessário para procurar sem afobação um apartamento que me conviesse. Muito mais que a economia que fiz por não gastar com hotel, o convívio com eles foi de um valor inestimável, principalmente a segurança de ter com quem contar caso surgisse alguma necessidade maior.

Robert, Jeanine e Henri muito me ajudaram nos primeiros passos em Nantes, até me ensinando francês. Durante todo o primeiro mês, contei com Henri, praticamente em tempo integral. Para ir ao laboratório pela primeira vez, para percorrer imobiliárias, para abrir a conta bancária, para alugar um telefone, para fazer o seguro-saúde, para conhecer a cidade etc., tinha sempre a valiosa companhia de Henri, cuja fluência em esperanto era notável.

Alugando o apartamento, era necessário mobiliá-lo. Aí ocorreu a terceira grande surpresa. Pediram que fizesse uma lista do que era mais necessário, para circulá-la entre os esperantistas. Desta forma consegui emprestado deles e seus amigos quase tudo para o apartamento: geladeira, fogão, máquina de lavar roupa, mesa, cadeiras, .cama, colchão, ferro de passar, pratas, copos, facas, garfos, colheres e até coador de café. Uma incrível demonstração de solidariedade. Obrigado, Esperanto!

Durante o tempo todo que lá permaneci, o convívio com o grupo esperantista foi sempre muito agradável. Participei das reuniões mensais do Centro Cultural de Nantes, de encontros regionais, de estágios de fim-de-semana, e de feiras do livro com stand de obras esperantistas, em Nantes e em duas cidades vizinhas. Assisti a palestras e visitei em Paris a sede da UFE- União Francesa de Esperanto, e da SAT- Sennacieca Asocio Tutmonda; com a família hospedei-me no Castelo Esperantista Francês, e também na casa de Jean Ripoche, presidente do grupo esperantista Le Mans, onde a convite fiz palestra sobre o Brasil.

Terminado o estágio, após 13 meses na França, era hora das despedidas. "Oficialmente", despedimo-nos em uma reunião festiva na casa de Pierre e Luce Babin, mas ainda revisitei a maioria deles para devolver o que fora emprestado. Pouco antes do embarque no aeroporto de Nantes, a última demonstração de afeto: Robert e Jeanine lá estiveram para a despedida final.

Graças ao Esperanto, constatei que a verdadeira fraternidade não só é possível como de fato existe. E também, graças ao esperanto, estou aprendendo a desenvolver a virtude da gratidão. Obrigado, Esperanto!



06 maio 2006

SENTA AÍ, TALITA ! (Hillel, um sábio professor)

HILLEL, UM SÁBIO PROFESSOR
Fernando J G Marinho

(artigo publicado no Diário de Petrópolis, de 10 de julho de 1999)

Há cerca de três décadas, lecionei matemática para turmas correspondentes às atuais 5a e 6a séries do 1° grau em um curso noturno da Escola Técnica D. Bosco , em Resende-RJ . Como o exercício do magistério não era a minha atividade principal, resolvi aprimorar meus conhecimentos pedagógicos lendo A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR, do saudoso mestre Júlio César de Melo e Souza. A motivação para a leitura desse livro foi imediatamente fortalecida quando me deparei com a história narrada na orelha da obra. O Prof. Melo e Souza, cujo pseudônimo Malba Tahan tornou-se mundialmente conhecido graças à tradução de várias das suas criações para um sem número de idiomas, começa descrevendo quem era Hillel e a nos induzir à admirá-lo e seguí-lo como modelo. Com a palavra o mestre Melo e Souza:

" Já lá se vão muitos e muitos séculos... Havia na Judéia um rabino chamado Hillel. Era um homem de caráter reto, chefe de família exemplar, dotado de extraordinário e incalculável saber. Em conferências, na Sinagoga, esclarecia as passagens mais difíceis e obscuras dos Livros Santos. Reconheciam todos que o rabi Hillel dispensava a seus alunos ( que eram numerosos), o maior respeito e amizade. Tratava-os com extrema cordialidade e dedicação. Procurava auxiliar e motivar os mais fracos e animar e amparar os mais tímidos. Jamais dirigia a um de seus educandos uma palavra descaridosa e áspera. Era, para com todos, simples, justo e acolhedor. Quando chegava diante da classe, antes de iniciar a lição, o sobreexcelente Hillel cumprimentava os alunos, inclinando-se três vezes.
Certa vez, o estimado Naumin, cantor da Sinagoga, interpelou o sábio Hillel:
- Rabi! Estranho é o teu proceder. És o homem mais sábio de Israel. As tuas eloqüentes lições, no Templo, são ouvidas com o maior acatamento até pelos anciãos doutos e veneráveis. E, no entanto, tratas os teus jovens e inscientes alunos sem o mais leve traço de superioridade, com extrema brandura. E tu estás, ó Rabi, muito alto! Como poderias justificar essa tua maneira singelíssima de acolher os educandos?
Respondeu Hillel, com serenidade:
- Meu filho, trato os meus alunos com o maior respeito, procuro cativá-los e orientá-los pelo bom caminho, por um motivo muito simples: Eu sei, com segurança, o que sou ; sei também, o que posso valer. Mas o que eles, os meus pacientes alunos serão e o que poderão valer, eu não sei, nem poderei saber!
E inclinou-se, novamente, três vezes diante de seus alunos.
Como é singular o destino! Não há palavras perdidas pelos caminhos da vida. Entre os alunos de Hillel achava-se naquela ocasião, um adolescente chamado Jesus, filho do nazareno José, o Carpinteiro. "

O último contato que tive com meus ex-alunos da Escola Técnica D.Bosco ocorreu dois anos após haver me afastado das funções de professor daquele estabelecimento de ensino. Foi justamente na festa de diplomação dos meus jovens ginasianos que, emocionadíssimo agradeci , publicamente , o fato de terem me convidado para servir como paraninfo da turma e os ensinamentos que também haviam me transmitido.

Quanto ao sábio Hillel, acabei admirando-o mais ainda, quando tomei conhecimento da influência que as suas idéias haviam exercido sobre uma outra notável personalidade: Ludovico Lázaro Zamenhof (1859-1917). O livro " HOMARANISMO - a idéia interna " , de Délio Pereira de Souza, Editora Espírita Sociedade F.V.Lorenz ( Rio de Janeiro-RJ ), cuja apresentação, feita pelo professor e amigo Benedicto Silva, merece ser aqui reproduzida, nos dá uma boa noção do valor desses dois extraordinários filantropos .

"Entre os esperantistas e não-esperantistas, é comum referir-se a Zamenhof apenas como o criador ou, como ele mesmo se dizia, o iniciador da língua internacional Esperanto.
E o foi, realmente.
Entretanto, para que possamos avaliar a imensa estatura do seu espírito, não podemos limitar-nos a vê-lo tão-somente como o genial lingüista que legou à humanidade o mais perfeito instrumento de comunicação internacional, nem tampouco como o eminente estilista que se revelou através de dezenas de traduções das mais representativas obras da literatura universal, desde os livros do Velho Testamento, até as clássicas páginas de Shakespeare, Dickens, Andersen, Schiller, Heine, Goeth, Molière e Gogol.
A grandeza de Zamenhof reside principalmente na evangélica ternura com que ele dedicou toda a sua vida à solução de um dos maiores e mais antigos problemas da humanidade- a incompreensão dos povos, incompreensão geradora dos mais profundos ódios e das guerras mais sangrentas.
Atormentado, desde a infância, pelas hostilidades decorrentes de toda sorte de preconceitos, dentre os quais avultaram os raciais, já na infância sentiu despertar em sua alma sensível e cristã o germe do sentimento a que deu o nome de "homaranismo", e que outra coisa não era senão um grande e sincero amor à humanidade, à coletividade dos homens.
Esse sentimento não só fez de Zamenhof o protótipo do cosmopolita, como também o induziu a dotar sua língua internacional - o Esperanto- de uma certa magia, de um certo sortilégio, que ele chamou de "interna ideo"( idéia interna), e que consiste num poder misterioso, capaz de estabelecer um sentimento fraternal entre as pessoas que o praticam, qualquer que seja a raça, a nação ou a religião a que pertençam.
Em Zamenhof o gênio lingüístico não suplantou o dom apostólico. Antes, serviu-lhe de caminho- o caminho mais indicado que se devia seguir para atingir o fim desejado.
Isto é o que todo leitor sente ao ler a obra original de Zamenhof, constituída, em sua maior parte, de cartas e pequenos tratados.
Délio Pereira de Souza foi além. Captou a mensagem e não a guardou avaramente para si. Comentou-a, esmiuçou-a com paciência beneditina e no-la deu assim, de mão beijada, num gesto de cristianíssima generosidade. "

Amigo leitor, entre 12 e 16 deste mês, juntamente com outro coidealista daqui de Petrópolis, Luiz Carlos Schanuel, estarei participando do 35° Congresso Brasileiro de Esperanto ( Campo Grande-MS). Nesse mesmo período do próximo ano, será a vez de Petrópolis servir de sede para o maior evento da Liga Brasileira de Esperanto. A publicação semanal desta coluna ; a realização de cursos básicos da língua internacional na Universidade Católica de Petrópolis, bem como o desenvolvimento do Projeto Sementeira Esperanto no Colégio Estadual Rui Barbosa são algumas das iniciativas que estamos procurando ampliar, com vistas a divulgação do esperanto na Região Serrana e ao maior sucesso do Congresso do ano 2000.
Não deixe de visitar a home page do
Projeto Sementeira Esperanto. A partir dela, você encontrará as informações que deseja.

05 maio 2006

SENTA AÍ, TALITA ! (Nascimento de uma amizade)

NASCIMENTO DE UMA AMIZADE

Antes que o meu amigo Eurípides, a quem devo os maiores agradecimentos pelo incentivo à realização deste livro, torne a me escrever cobrando a ampliação de informações sobre a adorável colega mencionada páginas atrás, apresso-me em esclarecer o seguinte: Há tanto o que falar sobre a nossa querida mãe Noemï, que nos pareceu mais conveniente não esgotar em único capítulo tudo o que gostaríamos de dizer a seu respeito. As informações serão fornecidas em doses homeopáticas. Enquanto isso não ocorre, falemos sobre o nascimento de uma amizade.

No dia 2 de janeiro deste ano ( 2003) recebi uma mensagem eletrônica de um professor de matemática de S.José do Rio Preto-SP, solicitando informações sobre a possibilidade de ser obtida uma cópia da obra (esgotada) " A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR, de Malba Tahan, a que me refiro no artigo "Hillel, um sábio professor". Depois de antecipados agradecimentos, identificação e telefone para contato, o autor da mensagem, Prof. Eurípides A. Silva , acrescentou o seguinte: " PS. - Tive a honra de ter sido aluno do Prof. Benedicto Silva (esperantista que o senhor menciona no seu artigo) quando aluno do científico (em 66), na cidade paulista de Monte Aprazível."
O contentamento pela favorável repercussão do tal artigo, publicado inicialmente no Diário de Petrópolis, em 10 de julho de 1999; a amabilidade do leitor Eurípides e a coincidência de ter ele sido aluno do prezado coidealista Benedicto Silva, fizeram com que eu não resistisse a um imediato telefonema para S.José do Rio Preto e iniciássemos uma agradável troca de informações. Posso dizer, que a partir do contato telefônico, passamos a nos considerar como se fossemos amigos de velha data. A cada troca de correspondência, continuamos descobrindo novas coincidências relacionadas a interesses , hábitos, atividades e amizades comuns. Por enquanto somos apenas amigos virtuais , mas já nos conhecemos o bastante para desejarmos alimentar indefinidamente a camaradagem que nos une.
Lendo a seguinte reação ao meu telefonema, vocês verão que não estou exagerando:
"Você não imagina a satisfação que me causou sua ligação. Sobretudo pelo seu idealismo em prol da educação. (Também tive a oportunidade de criar colunas semanais em jornais aqui de S. J. do Rio Preto e região, procurando vulgarizar desmistificar a Matemática; Malba Tahan será sempre um modelo a seguir). Hoje, aposentado pela UNESP, ainda leciono em uma universidade de R. Preto e em uma faculdade de Catanduva.......... Saber que você é espírita só aumentou minha admiração, sem falar no respeito pelos esperantistas. (Além do Prof. Benedicto Silva, aqui em R. Preto, tenho um amigo esperantista em São Carlos (SP), professor da USP, que possivelmente você conhece: José Carlos Cintra.) Infelizmente, ainda não pude me dedicar ao Esperanto; espero fazê-lo antes de desencarnar...
Fernando, faço votos para que continuemos nos comunicando. Se conseguir algum resultado sobre o livro de Malba Tahan dê-me a honra de uma ligação ou e-mail. De resto, desejo-lhe um feliz 2003, junto aos familiares, com muita saúde e muita paz.
Prof. Eurípides A. Silva."

Em junho de 1997, estive pela primeira vez em S.J. do Rio Preto . Fomos visitar nosso filho caçula, Luís Eduardo , Heloisa e a dupla do barulho (Dudinha e Betina), que haviam mudado para aquela cidade. Não poderia perder a ocasião de conhecer pessoalmente o conceituado Prof. Benedicto Silva, esperantista de primeira categoria. Recebido em sua própria casa, lá permaneci por algumas horas.(Neste momento, uma luz vermelha imaginária me alerta para ser breve, para respeitar os leitores; uma outra verde, indica: vá em frente, há quem aprecie detalhes) Resumindo: O Professor Benedicto falou-me da sua paixão pela filatelia; das suas viagens ao Japão , a convite de uma organização que utiliza o esperanto como veículo de divulgação de seus objetivos, a "Oomoto" ,
"uma 'nova' religião japonesa , com fundamento na cultura tradicional do Japão, com ritual xintoísta , cujos ensinamentos universalistas demonstram, entretanto , alto respeito pelas religiões de todos os povos". Falou-me, inclusive, das atividades que exercia como tradutor e redator da revista "Oomoto".
Fato curioso ocorreu quando o Prof. Benedicto abriu um grande arquivo de aço e de lá retirou alguns envelopes enviados por seus correspondentes, ornamentados com belíssimos selos comemorativos, oriundos de várias partes do mundo. Ao reconhecer no primeiro envelope a inimitável caligrafia de um velho amigo , surpreso exclamei: " Não me diga que esta carta é do samideano Werner Heimlich, de Soltau, Alemanha ! " E era. O Sr Werner foi um dos primeiros correspondentes que tive. Quando começamos a nossa troca de cartas, postais, revistas e fotos, ambos éramos iniciantes no aprendizado do esperanto. Como diria Malba Tahan, "já lá se vão 50 anos... !"

Quanto ao José Carlos Cintra, citado pelo Eurípides, o que tenho a dizer já havia sido publicado em artigo do dia 20 de novembro de 1999, no Diário de Petrópolis. Além de aparecer na página citada,
será aqui reproduzido , um pouco mais adiante, sob o título "Crer para ver".

E quanto A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR ? Bem, a primeira providência foi publicar uma nota em duas das listas de debates pela internet, mantidas por amigos esperantistas, expondo o nosso interesse em obter uma cópia do livro em questão. A resposta com a indicação de bibliotécas universitárias e livrarias que operam com livros usados (sebos) foi imediata.
Mais uma gentil reação do Eurípides: "Caramba, como são bem informados seus companheiros! Gente finíssima! Sou-lhe infinitamente agradecido pela solicitude e presteza. Já estou procurando contatar a Universidade referida pelo Jozefo."
Dias mais tarde, fui surpreendido com o recebimento pelo correio de uma cópia do livro " que havia emprestado a não sei mais quem e adeus...! " O autor da remessa só poderia ter sido o prezado Eurípides.
Aí está, como nasce uma amizade. Esperamos que no futuro possamos ler uma crônica escrita pelo próprio Eurípides, intitulada "Como nasce um esperantista." Interesse e dotes para aprender a língua neutra internacional não lhe faltam. Competência para escrever belos artigos, também não. Vejam, mais adiante, depois de "Hillel, um sábio professor" e de "Crer para ver", o que ele nos diz, em "Impulsividade em três tempos".

FJGM,17.02.2003
ANOTAÇÕES:
Meu caro Eurípides,
1. Não se esqueça que este é um rascunho do rascunho. Discordando de alguma abordagem feita, por favor, não faça cerimônias e entre com uma "liminar" sob a forma de e-mail, solicitando o impedimento da publicação do que julgar que não deva aparecer no livro.
2. Vexame: Só hoje percebi que estava digitando incorretamente o seu nome, escrevendo Eurípedes ao invés de Eurípides.
Abraços do
Marinho



04 maio 2006

SENTA AÍ, TALITA ! ( Um verdadeiro tipo de soldado)

O texto abaixo , cuja grafia original acha-se integralmente respeitada, foi transcrito da publicação "MARTE "- ANNUARIO ILLUSTRADO DO EXERCITO E DA ARMADA-1°VOLUME - 1908.
Trata-se de um precioso documento que me foi dado há muito tempo pelo Paulo , irmão já falecido, querido de todos nós e, em especial, de todos os sobrinhos.
FJGM

Um verdadeiro typo de soldado

"Le métier de la guerre comme on pourrait le craindre,
si l' expérience ne nous instruissait pas,
ne tend nullement à dégrader et a rendre féroce celui qui l' exerce;
au contraire il tend a le perfectionner"

Como divérge este conceito de J. DE MAISTRE da opinião d'aquelles para quem a função militar se apresenta sempre como o exercício dos mais cruéis instinctos da humana ferocidade!
Para esses, victimas inconscientes de uma entidade morbida prestes a ser inscripta nos tratados de pathologia, os exercitos nada mais são senão machinas de morticinio, e o soldado - o semeadôr do luto e da orphandade, o sacerdote horrífico da desolação, a féra insaciavel de vidas e de sangue. Debaixo do uniforme, acreditam esses pobres miliphobos, não pulsam corações bem formados, não existem sentimentos de bondade.
Entretanto, como são erroneos taes juizos, a historia o demonstra de módo formal, esmagadôr .
Quasi falsos quando se referem a soldados de nações conquistadôras, erradissimos são, concernindo ao soldado brasileiro, cidadão de uma patria onde a guérra, por via de régra, tem tido sempre a justifical-a o direito sacrosanto da legitima defeza, e que de sua carta magna riscou a hypothese odienda da conquista.
Certamente, individuos tem havido e existirão ainda, aqui e alhures, para os quaes a farda sérve somente de relêvo a vicios e torpezas.
Deshonram-n'a.
Aviltam-n'a.
Seria, porém, errar, e mui erradamente, pretender erigir taes miseraveis em estalão e por elles querer avaliar um exercito qulquér.
Por felicidade, a gente d'esse jaez é muito pouco numerosa.
A mór parte, procura com afan, nos limites da capacidade moral e intellectual de cada um, satisfazer ás qualidades caracteristicas que déve ter o soldado moderno e principalmente o soldado brasileiro: dedicação absoluta ao dever militar e bondade de coração. Aquella é em synthese a representação das virtudes profissionaes, esta a crystallisação dos predicados do soldado digno, no trato com os seus camaradas, com os concidadãos civis e com o inimigo vencido.
Semelhantes qualidades, inaccessiveis a almas pequeninas , tem passado como uma herança abençoada das gerações de outr'ora para as de hoje, apezar de hiatos, cumpre reconhecel-o por amôr a verdade, que a intolerancia politica, servida por paixões vilans, tem produzido em todas as nações.
***
E haverá entre nós, no momento actual, quem satisfaça ás qualidades caracteristicas apontadas? Perguntará o leitor de si para si.
Mercê de Deus, varios exemplos poderia citar. Não é meu intuito, porém, fazer d'estas linhas uma carta de nomes. Por isso lembrarei apenas o de um dos mais estimados generaes do nosso exercito.
E si me fôra mistér justificar a razão de ser d'estas linhas, collocando-as sob a égide de um d'esses nomes, que despertam o acatamento universal, bastaria transcrever este pensamento de Vauvenargues: " C'est une maxime inventée par l'envie, et trop légèrement adoptée par les philosophes, qu'il ne faut point louer les hommes avant les mort. Je dis au contraire que c'est pendent leur vie, qu'il faut les louer, lorsqu'ils ont mérité de l'étre."
Demais, o cidadão de quem me vou occupar está afastado dos cargos em cujo exercicio poderia, si lhe fosse outra a estructura moral, recompensar thuriferarios, pois , em bôa hora, a presidencia da republica o levou para o mais alto tribunal militar do paiz. E ahi, como nas multiplas funções administrativas e de commando que a sua capacidade illustrou, servirá a patria como vem fazendo ha uns oito lustros com a maior dedicação e competencia.
Refiro-me ao General José Maria Marinho da Silva.
As minhas palavras, creio firmemente, taduzem os sentimentos de todos os que tiveram a ventura de servir sob as ordens d'esse estimadissimo chefe.
Desde a campanha do Paraguay, para a qual marchou como voluntario com menos de 17 anos, e onde por sua bravura conquistou a promoção ao primeiro posto do exercito, até ao elevado gráo da hierarquia militar em que se acha, tem sido sempre, para servir-me da concisa expressão ingleza : the right man in the right place.
De sua dedicação ao deve militar é testemunho a fórma como sempre desempenhou as commissões que lhe foram confiadas.
Instructor de cavallaria da Escola Militar da Praia Vermelha, cargo para o qual foi nomeado mediante concurso ( procésso há muitos annos eliminado, infelizmente, das nórmas da administração militar) , não restringio a sua actividade a execução mais ou menos tibea do programma escolar, como é de costume fazer-se, mas havendo notado quão deficientes erão os regulamentos de BERESFORD e BARBACENA, então em uso, organisou por iniciativa propria um projecto de instrução para aquella arma, mandado adoptar no exercito em Agosto de 1889, e ao qual, no dizer da commissão que sobre elle deu parecer, é de per si bastante para fazer a reputação de um official.
Commandante do 6°districto militar, em uma epoca na qual estavam ainda vivos os odios nascidos da revolta federalista e a guarnição trabalhada pelas intrigas da politicagem, procedeu tão imparcialmete, que ao deixar esse cargo, unanimes foram as manifestações de reconhecimento, oriundas da certeza em que estavam os rio-grandenses de lhe deverem, em grande parte, o não ter ressurgido a guerra civil.
Como inspector de varios corpos, a sua acção não tagenciava apenas os problemas concernentes a instrucção, a administração, a disciplina: procurava resolvel-os á luz da grande experiecia que tem das cousas profissionaes.
O que fêz como commandante do 4° districto militar foram serviços de alta monta, cuja excellencia não teve tempo ainda de cahir em olvido.
Embóra julgue ocioso lembral-os, recordarei, contudo, para dar uma idéa da sua orientação, uma d'entre as muitas medidas cuja adopção propoz em seus relatorios, as quaes, si houvéssem sido postas em vigor, concorreriam para melhorar a situação do exercito, collocando-o em condições de mais efficientemente cumprir a sua função civica.
Quéro lembrar o que solicitou quanto a tão necessaria acquisição em cada districto de um campo de instrucção, com area sufficiente para nelle manobrar, marchar e acampar uma divisão e fazer exercicios de tiro de guerra.
Documentar a bondade de coração do general Marinho, bondade que não exclue o rigor a empregar contra quem se arréde do bom caminho, é problema cuja unica difficuldade consiste na affluencia de factos comprobatorios.
Quando instructor da Escóla da Praia Vermelha, era o seu lar o prolongamento do lar de todos os alunnos, e, para muitos d'elles, orphãos ou separados de seus progenitores, o unico ponto onde recebiam as reacções salutares da familia.
E quantos, quantos não encontraram na bolsa parca do Capitão Marinho desinteressado auxilio e, no seu coração opulento, carinhos e bem querer!
Assim procedeu sempre, porque sua bondade se não caracterisa pela fórma passiva de não praticar o mal, porém pela fóma activa de impedil-o e de praticar o bem.
E foi, por isso, que,quando o dever militar o mandou, por occasião da revolta de Setembro, aos sertões do Paraná, longe de proceder como outros que andaram maculando as armas da Republica com atrocidades infames, agio com toda a humanidade, salvando a vida de muitos brasileiros préstes a serem victimados.
No exercicio do cargo que por ultimo occupou nesta capital, era de ver o interésse carinhoso com que procurava minorar o soffrimento dos soldados, em lévas arrancados, pelo beriberi e pelo impaludismo, aos batalhões estacionados no 1° districto militar, mostrando, mais uma vez, que para elle, o simples soldado não é apenas uma unidade a considerar no calculo dos effectivos de que dispõe o general, mas um concidadão, um irmão d'armas.
***
E assim, a traços largos, fica nestas linhas debuxado um typo de soldado digno de imitação.
(a)CAPITÃO R.SEIDL



03 maio 2006

SENTA AÍ, TALITA ! ( Uma colega adorável)

Rio,12.2.2003 (4a feira)
Oi,Talita! Alô-ô!

No domingo passado contei para a Heloisa ( para quem não sabe,minha nora, mãe da famosa dupla Eduardo/Betina) sobre o nosso livro. Ela me perguntou se eu já tinha um esboço completo da obra. Disse que não, pois pretendo ir escrevendo , como fazem os cronistas,isto é, na medida em que fatos forem acontecendo e dando margem a "ganchos".
A propósito, gostei de saber que o Edson, seu namoradinho e colega de turma de colégio, ficou impressionado com as informações que recebeu a respeito da gramática do esperanto, a ponto de revelar que pretende aprendê-lo. Eu já simpatizava com esse moleque, por achá-lo parecido com o "cracão" Athirson, integrante (pelo menos até o presente momento) do glorioso Flamengo F.C. Agora, então, sabendo-o inclinado a estudar o esperanto, o rapazinho subiu de vez no meu conceito.
Falando sério: As razões que levam uma pessoa a interessar-se pelo aprendizado do esperanto são as mais variadas possíveis. Depende muito das circunstâncias em que for apresentado ao assunto e dos seus gostos, tendências e hábitos pessoais. Assim como há quem sinta grande prazer em solucionar desafios matemáticos, palavras cruzadas, charadas e um enorme número de variados testes e jogos, há quem se delicie com a construção de poemas, com o adequado emprego de palavras e de frases ,na própria língua ou em línguas estrangeiras, há também os que ficam maravilhados com a simplicidade, com a lógica, com as possibilidades que o esperanto encerra. Há os que vêm no conhecimento do esperanto uma forma de penetrar diretamente na cultura de outros povos , sem depender da existência de publicações produzidas por terceiros, nos idiomas que nos são praticamente impostos. Há os que vibram em participar do movimento esperantista, pela satisfação de estarem contribuindo para a construção de um mundo melhor, facilitando a compreensão recíproca de povos de línguas diferentes. Como diria o grande xará : "Tudo vale a pena , se a alma não é pequena". De minha parte, tenho feito o possível para aumentar o número de participantes desse movimento. Os resultados não são imediatos. O avanço é lento,mas os prazeres que sentimos no decorrer do processo de divulgação do esperanto são compensadores. Vou dar apenas um exemplo:
Em 1955 a cidade do Rio de Janeiro sediou o 3° Congresso Mundial Eucarístico Esperantista, cujos trabalhos foram organizados pelo padre chinês J.B. Se-chien Kao, o qual, depois de visitar o Brasil por três vezes, acabou permanecendo no Rio de Janeiro , por 8 anos. Não sei como, mas fiquei sabendo que o Padre Kao, além do esperanto, falava fluentemente o francês, língua que a sua bisavó Noemï também dominava e lecionava. No auge do meu entusiasmo pelo recém aprendido esperanto e depois de poucas e boas conversas com a minha saudosa mãe sobre a excelência dessa língua, resolvi convidá-la para uma visita ao Convento Santo Antônio, onde teríamos a oportunidade de conhecer o Padre Kao e de praticarmos, ela , o francês e eu, o esperanto. Para uma mulher inteligente , católica fervorosa, sempre disposta a conhecer coisas novas , não haveria melhor oportunidade do que esta. Lá fomos nós. Foi uma tarde maravilhosa. Ganhei uma nova colega de estudos! Guardo até hoje uma foto em que essa adorável "colega" aparece com um véu preto sobre a cabeça, participando de uma das cerimônias religiosas do citado Congresso Eucarístico. Passados alguns meses, no início da minha carreira profissional, já servindo em Campo Grande, atual Mato Grosso do Sul, novas alegrias: a troca de correspondência em esperanto, com a própria mãe ! Agora, uma confissão: O que mais me comovia ao ler as cartas que ela me enviava eram as citações de belíssimos textos extraídos de obras publicadas em esperanto, porém psicografadas ou escritas por autores espíritas. Criatura extremamente bondosa, tolerante, compreensiva, isenta de preconceitos ! Que exemplo!

Recado para o Edson:
Não deixe de fazer uma visitinha ao sítio http://www.npoint.com.br/sementeira que está merecendo uma atualização , mas que contém algumas informações bem interessantes.
Em matéria de curso, sugiro que visite a seguinte página , construída pelo amigo Carlos Pereira, de Rondonópolis-MT http://www.cursodeesperanto.com.br . Você vai ficar surpreso com a qualidade do material apresentado.

Um beijão do vô
Fernando

Recado para o Alexandre, redigido em 03.05.2006: Estou me lembrando das gozações que fizeram com você, numa daquelas idas à Angra dos Reis. Um dos seus fiéis amigos, " mui amigo", não parava de provocar recordações do Edson. Não é o meu caso, pois estou apenas reproduzindo um texto escrito em 12.02.2003. Para limpar a minha barra, devo acrescentar : " A Talita é uma garota de sorte; até hoje, só teve como namorados gente finíssima!".

FJGM






02 maio 2006

SENTA AÍ, TALITA ! (Contar carneirinhos? Já era!)


Ultimamente , com esse desafio de escrever o SENTA AÍ, TALITA! , acabei notando que o meu sono vinha sofrendo algumas alterações. A primeira etapa do repouso do guerreiro, como até hoje acontece, transcorre normalmente : apago imediatamente, ao primeiro contato com o travesseiro. Mas, no meio da madrugada, depois de algumas horas de descanso e de satisfazer a mais corriqueira das necessidades dos idosos, voltava para a cama e começava a me preocupar com a estruturação dos capítulos desta "obra-prima". Justo nesse momento , as lembranças de inúmeros fatos povoavam a minha mente e roubavam o meu sono. Pois, foi exatamente uma dessas lembranças que me trouxe a solução para a incipiente insônia : Por que não fazer uso da auto- hipnose, já que eu a conhecia de longa data? Passei a fazê-lo e o problema foi resolvido. Querem saber os detalhes de como venho driblando a insônia? Pois não. Sugiro, no entanto, que , inicialmente , leiam sobre as origens do meu interesse pela hipnose.
Por volta de 1959, quando era ainda 1°Tenente e servia no então 1° Batalhão de Engenharia de Combate, em Santa Cruz,zona oeste do Rio de Janeiro, fui convidado pelo médico da Unidade, Ten Dr. Silvio, para , segundo suas palavras, assistir a um fenômeno interessante. Vocês deverão estar se perguntando se há necessidade de entrar em tantos detalhes para contar um caso como o que pretendo narrar. Afirmo que sim. As histórias relacionadas à hipnose costumam ser tão extraordinárias que , se não forem bem documentadas, facilmente caem no descrédito geral. Prossigamos. Uma vez aceito o convite para presenciar o fenômeno, nos dirigimos para o gabinete odontológico do Quartel, onde nos aguardavam o dentista ( Dr. Macri. Se não me engano era esse o seu nome) e um soldado , seu paciente. Enquanto o médico, Dr.Silvio, hipnotizava o soldado e descrevia os resultados esperados, o dentista ia realizando, tranqüilamente, as ações que lhe competiam. Lembro-me, perfeitamente, de algumas das afirmações do médico (ausência de salivação,ausência de qualquer sensação desagradável, desprendimento gradativo da raiz do dente que estava sendo extraído,contração de vasos e artérias, eliminando eventuais hemorragias) ,de alguns procedimentos do dentista( extração de um dente,sem necessidade de anestesia) e das reações do organismo do soldado, correspondendo exatamente ao que ia sendo descrito pelo médico. Impressionado com o que vira, revelei ao Dr. Silvio o meu interesse em receber umas aulas sobre o emprego da hipnose. " Marinho, se você conseguir mais uns 5 interessados, dispostos a pagar o que eu paguei no curso que fiz, poderemos pensar no assunto." - foram as palavras do Silvio. A partir daí , comecei a busca de interessados. A primeira pessoa que abordei foi um sargento do meu pelotão. Rebelo, era o seu nome. Resposta do Rebelo ao meu convite: "Tenente, eu já sei hipnotizar. O Senhor não precisa pagar nenhum curso. Vou lhe indicar o livro que utilizei para o meu aprendizado". Em seguida, chamou um dos nossos soldados e passou a demonstrar que de fato conhecia a técnica da hipnose e obtinha resultados impressionantes. Autor do livro indicado pelo Rebelo: Dr. Karl Weissmann, então psiquiatra da Penitenciária de Neves, Minas Gerais. Nome da obra: O HIPNOTISMO -psicologia, técnica e aplicação ( Editora Martins, 196? )
A leitura da obra do Dr Karl Weissmann foi suficiente para dar-me condições de provocar fenômenos verdadeiramente fantásticos. Mas, é bom que se diga, não basta saber provocar fenômenos, há que se observar também uma série de recomendações encontradas em outras obras. É fundamental que se leia sobre os aspectos éticos, legais e religiosos da hipnose.
Ainda voltaremos ao assunto várias vezes, pois não faltarão histórias para contar.
Agora, ao problema da nossa insônia! Uma vez percebido que era a concentração da atenção na procura de caminhos para a estruturação deste livro o que estava perturbando o nosso sono, o aconselhável seria utilizar alguma técnica que permitisse desviar essa atenção para outro objeto, o que aliviaria a tensão e facilitaria o relaxamento. Foi aí que comecei a me concentrar no ato da minha própria respiração, imaginando o percurso percorrido pelo ar, o relaxamento provocado pela oxigenação do sangue , e, conseqüentemente , a me esquecer das preocupações anteriores.
Bem,se vocês acham complicado imaginar o funcionamento do próprio aparelho respiratório, apelem para aquele método ancestral da contagem dos carneirinhos. O resultado é o mesmo:
A atenção que estava voltada para os problemas passa a ficar voltada para a contagem dos carneirinhos.
Para terminar, um caso real:
Não estou bem lembrado se o fato aconteceu com a Talita, com a Natália ou com o Guilherme, quando eram bem menores. Um desses heróis , havia ido dormir na nossa casa. À noite, estava um pouco excitado e custando a pegar no sono. Explicou para o avô que isso o estava preocupando. Propus então que ouvisse a história que eu iria contar.É claro, que depois de descrever o cenário de uma bela fazenda, com riacho, lago, animais e tudo que tinha direito, surgiria uma cena em que carneirinhos iriam saltar uma cerca. Aí começaria a contagem (ilimitada) dos bichinhos. A coisa estava indo às mil maravilhas. O neto já estava quase fechando os olhinhos. De repente interrompe "a filmagem mental" e me diz: "-Vô, não consigo contar os carneirinhos, eles estão todos embolados." Foi só determinar que os bichinhos entrassem em fila indiana para pular o único lugar da cerca que permitia a passagem para o outro lado. Problema resolvido, ronco iniciado!
Bem, nosso objetivo não era, absolutamente, dar uma aula de hipnose. Desejei apenas passar para os amigos leitores a idéia de que a hipnose é um tema muito mais sério e muito mais importante do que se possa imaginar.

Anotações:
Meu caro Eurípedes, o livro citado nesta história enquadra-se no rol dos "emprestados, adeus!"
Este é o arquivo "senta 003"
09 fevereiro 2003
FJGM


01 maio 2006

O PORQUÊ DO TÍTULO " SENTA AÍ TALITA!"

O cinema estava quase cheio. A seção ainda não havia começado. A nossa heroína Talita ( na época , com 5 ou 6 anos de idade) fazia parte do grupinho de 5 crianças e um adulto, que aguardava o início do filme. A irrequieta menininha não parava um minuto.Levantava-se a todo momento. Ora para observar o movimento de chegada dos espectadores, ora para ir ao banheiro, ora para ir ao bebedor, ora para comprar balas.
-Onde você vai ,Talita ?
-Beber água, tia. Estou com sede.
-Senta aí, Talita! ( dizia a tia, já pensando em voltar para casa).Você já bebeu muita água.
E lá ia a garotinha... " E agora, aonde você pretende ir? "
-Comprar chicletes, tá legal?
-Não! Senta aí,Talita!
Para encurtar a conversa, depois de uma meia-dúzia de idas e vindas da guriazinha e da insistente determinação da tia, que não hesitava em repetir "Senta aí, Talita ! ", eis que um engraçadinho grita lá das últimas fileiras : "Senta aí,Talita!"
A platéia caiu na gargalhada e estourou de rir quando a baixinha, sem perder um segundo retrucou , " Cala a boca , %#$%!! !"
Não pensem que aprovamos e que estamos exaltando o irreverente comportamento da dita cuja . Mas, em determinadas situações, principalmente nas inesperadas, disfarçar o riso é coisa difícil.
Pois bem, saibam vocês que essa mesma Talita é adorada por todos os primos. Não pelas travessuras que fazia, mas pela maneira carinhosa e paciente com que trata quem quer que seja, e em particular os pequeninos.
Não mais de forma impositiva, mas sim convidativa, propomos à querida netinha Talita que ela se sente ao nosso lado para ouvir as histórias que temos para contar. Senta aí, Talita! A seção já vai começar.



(03.02.2003)

( na próxima página, provavelmente escreverei sobre o seu tio Paulo, meu saudoso irmão. Acho que vou contar sobre a viagem que ele fez para BH, sentado ao lado de uma freira. O assunto é hilariante! Outra hipótese: falar sobre a dificuldade de pegar no sono e sobre minhas experiências com a hipnose.Ultimamente , na hora de dormir eu ficava pensando no nosso livro)